Mas obrigado por pensar em mim. - A Via Lactea)
Vou me encarar somente hoje dessa forma. Engasgo.
Engasgo e recomeço.
Há o caos silencioso da sede de um deserto dentro de mim, há ainda a explosão insonora de um relâmpago na escuridão e abismo de um céu noturno. Sinto-me agora, como antes jamais, tampouco como hoje... sinto-me onde não estive, unhas sujas de terra, gosto de acerola, paz de primavera... não... não sinto a paz de primavera. Quero senti-la. E por querer-me tanto, e tanto querer ao externo, nada possuo. Sinto-me como a sacola plástica que escapa das mãos de um estranho e é carregada pelo vento, findará num corredor de água de chuva sem qualquer zelo. Sinto uma vontade grande de sair por aí e esquecer de quem sou, esquecer até mesmo do esquecimento, me ver livre de qualquer sentimento de dor, perda, ou até mesmo a saudade. Então aquele doce desejo de estar no alto de uma montanha retoma, meus braços e asas e pele – anseiam. Quero fugir. Fugir de quê? De quem? Tudo parece perfeitamente imperfeito. O beijo da morte levou junto com um ser amado algo precioso em mim... abrigo. Tento, tentamos, os telhados já não são fortes para as chuvas de lágrimas que vem me invadir, meus braços já não sobem em tecidos buscando alcançar o céu... forças se vão e esvaem. Não me reconheço como quem sou, como minha familiar não importância com os erros alheios... Sinto dores mortas, sentimentos adormecidos, medo. Penso e repenso em me entregar ao vento que tanto pertenci e hoje me escondo. Não sei quais são meus próximos caminhos, apenas sinto uma vontade imensa de partir... sem destino... sem parada. Apenas me ver a caminho de algo.